COMPORTAMENTO - Ostentação: ato de se fantasiar de rico para impressionar pobres

Recentemete viralizou um vídeo da estilista e CEO da Prada, Miuccia Prada, pelo simples fato de ela estar vestida de forma "comum" aos olhos da massa, quando esses, esperavam que ela estivesse coberta de girfe, dourado, estampas, monogramas, ou qualquer um desses símbolos que ricos-pobres se cercam para impressionar outros pobres. E a grande ironia nisso, é que a própria estética de suas casas de moda, Prada e Miu Miu, não tem essa imagem. Isso só prova o quanto as pessoas esperam que aqueles que tem muito dinheiro estejam sempre fantasiados de ricos, não importa a origem de sua fortuna. Afinal de contas, já estão muito acostumados a verem socialites emergentes, ex-participantes de realitty shows, pastores, comediantes de redes sociais, cantores de funk, e uma lista enorme de tantos outros "empregos modernos", fantasiados com essa estética, do qual seus maiores representantes, justifcam-se constantemente de que fazem isso para inspirarem a grande massa que os segue nas redes sociais, e que ajudam a pagar a conta desses adereços. E que ironicamente, a grande maioria dificilmente irá conseguir comprar qualquer objeto que eles ostentam, um dia.

Miuccia Prada

Eu já falei por aqui sobre quiet luxury, e como é que "verdadeiros ricos" se comportam. E nem estou me referindo ao conceito de ricos de berço, porque nenhuma família ou descedência são completamente  originais de heranças afortunadas. Se você estudar a árvore genealógica desses que são popularmente conhecidos como old money, com certeza em algum momento você vai esbarrar em um bisavô ou tataravó que era camponês ou uma feirante, e que começou sua fortuna la atrás, para hoje proporcionar títulos aos seus, de ricos de berço. Portanto, ao abordar esse e outros conceitos, estou me referindo a indivíduos que já compreenderam e encorporaram o verdadeiro conceito da riqueza, e não precisam se esforçar em provar nada a ninguém, principalmente a uma massa que não irá pagar por seu "produto final".

Vou usar um exemplo real e atual para ilustrar essa reflexão. Recentemente descobri a existência de uma figura pública que tem como carreira, algo bem fora do contexto do entreteimento. Mas ainda assim, ostenta nas redes sociais as suas posses. O que me chamou atenção nessa figura, e admito continuar acompanhando-a para enriquecer meu estudo sobre esse comportamento, é que ela chega a ser bem pior do que os meninos de comunidade que viralizaram com uma músuica, e ostentam moletons com monograma da Louis Vuitton. O caso dele é mais sério, porque ele tenta se fantasiar de rico discreto. Um exemplo é sua casa com decoração clássica, seus carros que são parecidos com alguns que o serviço secreto americano usa, está sempre vestido de cores escuras, e tecidos lisos, e os filhos, também aparecem em suas redes sociais vestidos de Ken e Barbie, uma vibe Ralph Lauren, anos 90. Acontece que só o fato dele exibir isso todos os dias como parte da rotina dele, já é um fato amplamente contraditório com o onceito de bilionário de Succesion que ele tenta passar. Segundo, entra um questionamento que se eu tivesse oportuidade, com certeza não hesitaria em perguntar pessoalmente: Por que um homem bilionário - segundo seus seguidores dizem nos comentários - ostenta tanto luxo, e nem estou falando aqui de moletom com estampa de monograma, é riqueza do mais alto padrão mesmo, como avião particular de mais de 30 lugares, e não um jatinho desses de frete com 12 lugares, sendo que os clientes dos seus negócios, provavelmente nem perfil na rede social tem, e já que o contratam por sua credibilidade e eficiência no que faz, e não porque se sentiram inspirados por seu estilo de vida Gossip Girl? A quem ele quer impressionar? Qual o objetivo desse reality show diário para pessoas que não o que conhecem, e que provavelmente nunca irão ser convidados para tomar um café em sua mansão com mesa posta com louça de prata? 

Quando vejo comentários em suas redes sociais do tipo "superação", eles caem em contradição com um sentimento que não sei se esses personagens de fato possuem. Discursos de complexo de Silvio Santos (que construiu o SBT sendo camelô), ou de uma juíza que se tornou uma profissional de sucesso estudando com livros que encontrou no lixo, também fazem parte desse arsenal de pessoas que vejo que ainda não superaram a pobreza como dizem, e ainda precisam estar se afirmando e reafirmando diariamente sobre o seu sucesso. 

Portanto, não se enganem com pessoas que justificam sua ostentação com o discurso de que fazem isso porque querem te incentivar. Incentivo de sucesso é conhecimento, oportunidade, investimento, e não influência para você comprar um aparelho de celular de 7 mil reais, com o seu salário minimo. E o questionamento sobre a Miuccia Prada ser bilionária e se vestir tão simples, deve ser trocado por: "Por que eu ainda sustento a audiência do rico-pobre que ainda não é seguro com sus conquistas, e ainda necessita de se reafirmar?".

Dominique Romeu é consultor de comportamento

Comentários

Postagens mais visitadas