ESTILO - Quiet Luxury não é estilo, é segurança!

Com a estréia da última temporada da série Succession, do canal HBO, em março, e ocasionalmente com os movimentos que a moda sempre faz para gerar mídia e mercado, ainda mais em momento de pós-pandemia, alguém decidiu lançar um "estilo" que não é um estilo, e tentar fazer disso um grande engajamento nas redes sociais para fazer acontecer uma explosão comercial, que pode até ter gerado algum susurro, mas não causou, e nunca vai causar nem um barulho no comportamento de consumo, e consequentemente nas vendas. Esse movimento resolveram batizar de quiet luxury, que na tradução para o português signfica luxo silencioso. O que já é contraditório só pelo nome que escolheram para o movimento. Já que é silencioso, por que a massa falou muito sobre o assunto nos últimos meses, e alguns ainda até tentaram "adaptar" e fazer acontecer essa tendência?

Por definição deles, quiet luxury é um "estilo" utilizado pelos bilionários, e alguns milionários, onde imprimem no seu modo de vestir, a elegância, sutileza, e refinamento. Basicamente são roupas bem cortadas e acabadas, cores sóbrias, e praticamente zero logo, e nenhuma indentificação de que tais peças de roupas são de grife. Apenas quem entende e trabalha com moda, ou os próprios usuários, conseguiriam identificar essas peças. Elegeram cores, cortes, listaram marcas, mas a verdade é que quiet luxury não é um estilo, nunca foi, e nunca será muito menos uma tendência.

Quiet luxury (repetindo esse termo aqui só para nos guiarmos na reflexão), na minha visão, é um comportamento de pessoas mais do que endinheiradas, mas principalmente com "poder", e segurança. E entenda-se por segunrança, aquele ou aqueles que não precisam exibir-se ou reafirmar algo, principalmente para milhares ou milhões de pessoas que provavelmente jamais irão alcançar o seu patamar financeiro. E por não sentir a necessidade de impressionar pessoas, somado ao fato de que geralmente tem mais com o que se ocuparem, é que acabam vestindo peças que lhe tragam conforto, e que muitas vezes até espelham um pouco de sua rotina fria, como é o ciclo onde vivem os bilionários cercados de competitividade e riscos nos negócios. Algo que a série Succession retrata com muita ênfase.

E não há como tratar sobre esse assunto, sem fazer um reflexão a respeito de algo que a gente ouve com mais frequência. Que são os emergentes, novos ricos, dinheiro novo, ostentação... e por aí vai. Quando você analisa o comportamento de pessoas que cresceram financeiramente, e hoje tem condições maiores para poder fazer coisas que não faziam antes, a roupa é o primeiro sinal que elas utlizam para mostrar onde s encontra no nível social. Muitas jóias, roupas necessariamente de grife, e não só de grife, mas que qualquer um possa identificar que há ali uma marca cara. Mesmo sendo essas, pessoas que talvez nunca comprem uma roupa dessa categoria. Além de cores, brilho, cortes e estampas que chamem bastante atenção. Porque nesse momento, a regra é CHAMAR ATENÇÃO. E diferente do que muitas pessoas que dizem ser entendidas do assunto falam por aí, não estou aqui para julgar o que é certo ou errado, até porque esse comportamento de estilo vai muito além do que as pessoas apenas conseguem enxergar. Isso é um estudo social. Isso é comportamento humano.

A maioria das pessoas que passaram por necessidades ou limitações, ao atingir posses, adotam um estilo caro como meio de celebrar sua nova fase, ou sentem essa necessidade por pura ostentação. Nós vivemos em um sistema onde isso já vem em nosso DNA, desde a formação dessa espécie. E superficialmente, isso não é uma questão de estar errado. É assim que a sociedade funciona. E quando olhamos para esse ciclo pequeno de pessoas que não tem essa necessidade na vestimenta, tem duas coisas para qual devemos nos atentar. Primeiro, não é que o jeito deles esteja correto. Segundo ponto, não existe berço se a gente for cronologicamente bem longe ao estudar as gerações anteriores de tais famílias. Com certeza, em algum momento surgirá alguém que irá quebrar essa lenda de sangue azul ou ricos de berço. E ainda nesse ponto, eu não acho que a questão existe em você ser rico de berço, ou old money, mesmo que isso fosse possível ser comprovado com um atestado de "puro sangue". Pra mim isso está em uma questão de evolução. Você evoluiu ao tal ponto de consciência a respeito de onde você se encontra, e quem você é, que não há necessidade de você provar, ou impressionar pessoas que talvez nunca irão fazer parte do seu ciclo. E isso é quiet luxury. Por isso volto a repetir, quiet luxury não é um estilo. Porque estilo qualquer um consegue comprar ou adaptar. Mas consciência de valor e "poder", estão diretamente ligados a comportamento. Comportamento que você só conseguirá adquirir, quando atingir esse nível de sucesso, e compreensão dele. E não comprando peças similares na loja de deparatamento mais próxima. Até porque, em uma coisa tenho que concordar com alguns dos impulsionadores desse movimento, as peças usadas por esses bilionários, são sim de cortes e cores mais simples, porém, de excelência na qualidade de materiais, costura e acabamento. Como as peças em couro da grife italiana Bottega Venetta, que são de couro de primeira linha. A primeira marca a ter acesso aos maiores produtores e exportadores de couro do mundo, para as maiores grifes internacionais. E uma marca bastante usada por pessoas desse ciclo que gostam de qualidade, mas não buscam ostentar através das roupas, até porque peças da Bottega, são um tanto minimalista, sem logo. No máximo você irá conseguir identificar os acessórios pelo seu trançado famoso.

Afinal de contas, bilionários são bilionários porque não perdem tempo batendo perna no shopping a procura da última tendência, para ter a sensação de ser aprovado pelos outros, ou de se sentir rico. Portanto, a idéia desse texto, não é somente para desfazer uma ilusão que contaram para vocês. É principalmente para fazer entender que estilo está diretamente ligado com comportamento. E não tem como você aderir a um estilo, se você não faz parte conscientemente daquele comportamento. 

dominiqueromeu@gmail.com

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