BUSINESS - Revenge Buying "Compra de Vingança"

Essa análise econômica foi feita por Dominique Romeu em um dos primeiros meses de pandemia do COVID19, em 2020.

Se você se interessa um pouco por economia, lê sessões em jornais, ou faz pesquisas de mercado pela internet, você já deve ter lido ou escutado algo sobre "revenge buying". Traduzindo para o português: compra de vingança.

O termo 'baofuxing xiaofei' (revenge buying), foi utilizado pela primeira vez na China nos anos 80, para descrever a demanda reprimida por produtos estrangeiros que foram negados aos seus cidadãos quando a nação foi fechada para o mundo. Antes disso, Deng Xiaoping instituiu a política de abertura no final dos anos 70, e marcas ocidentais começaram a inundar um novo e gigante mercado.

Nesse fim de semana na China, após uma breve pausa no lockdown, a grife Hermès registrou o faturamento de US$2.7 milhões em vendas, em um único dia de abertura, e em uma única loja. Esse fato com uma recém pausa na quarentena inciada por lá, levou aos especialistas a apelidarem esse tipo de comportamento com o já mencionado movimento que aconteceu nos anos 80. 


O que seria revenge buying? Nada mais é do que o sentimento de compensação que um indivíduo acredita adquirir através do consumo, após um período de recessão, ou de reclusão obrigatória, como o momento que o mundo todo está agora: a quarentena por conta do COVID-19. Logo, após um momento de mudança de comportamento radical imposta, onde o o mesmo é colocado em obrigação de se privar de sua rotina e de seus prazeres, ele se livra dessa reclusão com o sentimento inflado de descarregar aquela energia de satisfação pela liberdade, ou o simples fato de comemorar, "descontando" em um comportamento de consumo desenfreado, que se estende não somente para moda - setor do qual os produtos são dispensáveis em uma situação de crise financeira -, mas também para gastronomia, diversão urbana e viagens. 

No romance americano muito aclamado pela literatura mundial O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald, é possível entender de uma forma ilustrada o que significa esse comportamento. O romance foi escrito e publicado nos anos 20, e foi baseado no comportamento social americano naquele período pós-guerra. Após a primeira guerra mundial, os americanos viviam como se não houvesse amanhã. A economia estava indo muito bem, e após um grande período de reclusão por conta da guerra, as pessoas se sentiam enebriadas pela vontade de viver da forma mais intensa que podiam. As festas eram verdadeiras produções de cinema, regadas ao melhor whisky e champanhe. Tanto homens como mulheres se produziam com as melhores roupas. A compra de ímoveis e investimentos eram crescentes, e la estava o homem vivendo como se tivesse nascido novamente, e estava aproveitando o melhor da vida, como se nunca houvesse experimentado. 

cena do filme O Grande Gatsby

A China ainda não suspendeu a quarentena totalmente. Houve uma evolução no combate contra o COVID-19 no país, mas para evitar o retorno crescente dos casos, a reclusão tem sido mantida. Se esse será o comportamento que a sociedade em geral terá quando tudo isso acabar parcialmente ou totalmente, acredito que para uma grande maioria irá ter uma sensação sim de liberdade, de comemoração, de consumo e compensação. Acontece que dentro desse ciclo, há varias situações, nichos, interesses e condições. Haverão àqueles que tem condição e interesse, e partirão para a loja de grife mais perto para comprar um ou mais artigos de luxo. Haverão outros que com um pouco mais de consciência se contentarão em se presentear com algo para se manter satisfeito, seja uma peça de roupa, um objeto de decoração, ou jantar no restaurante predileto. E também haverá aquele grupo de pessoas que já vinham tendo uma mudança de comportamento de consumo antes da pandemia, e que durante esse período, refletiu, e com a vida voltando parcialmente, ou totalmente ao "normal" terá novos hábitos

Não acredito em uma grande mudança de comportamento e da economia que muitos tem expectativa de que irá acontecer, apenas com o encerramento da pandemia. E principalmente de um dia para o outro. Muitas pessoas irão repensar sim em seus hábitos de consumo. Algumas prioridades e mudanças irão surgir. Em um grupo será instantâneo, em outro será mais lento, e em alguns simplesmente não haverá. Assim como existirão àqueles irão trazer o equilíbrio direcionado ao seu estilo. Em vez de 10 bolsas de grife por ano no valor de U$5 mil dólares cada, algumas peças especificas que sejam atemporais, e evite o acumulo de roupas e acessórios, e novos investimentos por alguns tempo. 

Por fim, acredito que o revenge buying irá acontecer para a grande maioria das pessoas. Mesmo em níveis diferentes de impactos, com a consciência reeducada, e o medo de ficar descapitalizado novamente diante de uma outra crise. Quem tem o hábito de beber, irá fazer um churrasco com os amigos, quem tem o hábito de comprar roupas, irá se presentear ao menos com uma peça nova, e assim, cada um dentro dos seus interesses e sua realidade. Mas acredito nesse comportamento e impulso na economia como um "recomeço", e a desaceleração e equilíbrio com os novos hábitos e interesses com o decorrer do tempo. 

Dominique Romeu é consultor de negócios

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